25-09-2022 Domingo
O jornalista Rubens Valente lembrou que Bolsonaro propaga absurdos como esse sobre os pobres há 30 anos, quando nem existia Bolsa Família
Gaspard Estrada, na coluna que escreve no The New York Times, classificou certa vez o desgoverno de Bolsonaro de “distopia aparentemente sem fim”. Na ocasião, o cientista político, que avaliou as ações do presidente de extrema direita diante da pandemia, estava coberto de razão, pois as atrocidades continuaram.
Somente o atual mandatário, matreiramente, quer negar uma situação visível. Numa entrevista no mês passado, afirmou que ninguém passa fome no país: “Alguém já viu alguém pedindo um pão na porta, ali, no caixa da padaria? Você não vê, pô”.
Ao ser questionado nesta quarta-feira (21), na série “Diálogo com Candidatos à Presidência do Brasil”, da Rede Vida, sobre a condição de o país ter voltado ao mapa da fome, Bolsonaro disse não ser verdade que 33 milhões de brasileiros passam fome. “Não é esse número todo”, esquivou-se.
O pior estava por vir. Culpou o próprio povo pelas condições de pobreza: “Os pobres são pessoas que foram ao longo dos anos acostumadas a não se preocupar, ou o Estado negar uma forma de ele aprender uma profissão”.
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Ex-ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello criticou as falas de Bolsonaro e o ministro da Economia, Paulo Guedes, negando a fome. Negar as evidências não mudará a realidade. Tão pouco colocar ‘antolhos’ evitará que se deparem nas ruas com a tragédia social”, disse.
Para ela, em quatro anos eles não aprenderam nada, só restando o negacionismo. “Destruíram a estratégia brasileira de enfrentamento a fome e pobreza e construíram um programa mal desenhado. Por isso a fome está de volta. Com Lula vamos tirar o Brasil, novamente, do mapa da fome e reconstruir o país”, afirmou.
Quem conhece a trajetória de Bolsonaro sabe que por diversas vezes o preconceituoso presidente já declarou que os pobres são assim por “preguiça” e “falta de iniciativa”.
O jornalista investigativo Rubens Valente lembrou que Bolsonaro propaga absurdos como esse sobre os pobres há 30 anos, quando nem existia Bolsa Família. “Escrevi durante a campanha de 2018, após recuperar seus discursos na Câmara de Vereadores do Rio”, lembrou Valente, que numa postagem destacou a seguinte frase de Bolsonaro: “Pobre não sabe fazer nada”.
“Bolsonaro disse que pobres foram acostumados a não aprender uma profissão. É tosco, mas reflete um pensamento comum a uma parte da elite e da classe média que acredita que para resolver o problema dos pobres basta inventar profissão para eles”, observou Leonardo Sakamoto, colunista do UOL.
Para a presidente nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), Bolsonaro soltou uma de suas piores atrocidades e culpou os pobres pela pobreza. “Desumano e cruel, tem horror ao povo”.

Pesquisa
Enquanto isso, Lula vem surfando nesse segmento nas pesquisas eleitorais. O Datafolha, divulgado nesta quinta-feira (22), por exemplo, deu uma liderança com folga para o ex-presidente entre a maioria mais pobre do país. Ele obteve 57% das intenções de votos entre os eleitores que recebem até 2 salários mínimos. Bolsonaro tem 24%. O ex-presidente subiu cinco pontos e o atual caiu dois em relação ao último levantamento.
Vermelho
