28-09-2021 Terça-feira
No dia 27 de setembro, nós, parlamentares federais, votamos pela manutenção ou pela derrubada dos vetos que o presidente Bolsonaro apôs, de forma parcial ou integral, em alguns projetos de lei por nós aprovados neste ano. Tanto na condição de deputado federal quanto na condição de cidadão brasileiro, jamais concordaria com qualquer veto aplicado a um Projeto de Lei como o que recebeu o nome “Lei Assis Carvalho II”, o PL 823/2021.
Digo isso porque, para vetar um projeto como esse, é preciso não possuir qualquer sensibilidade social, qualquer senso de humanidade.
O PL 823/2021, do qual me orgulho de ser um dos coautores, foi apresentado pela bancada do PT na Câmara em benefício dos agricultores familiares, uma das categorias de trabalhadores mais fortemente atingidas pela pandemia da Covid-19.
Alegando que a proposta “contraria o interesse público” e que “o veto é necessário para o cumprimento das normas orçamentárias e financeiras”, Bolsonaro disse não a esse PL. Em outras palavras, recusou-se Bolsonaro a sancionar um conjunto de propostas de amparo aos pequenos trabalhadores rurais, mesmo estando esses trabalhadores — responsáveis por 70% de tudo o que chega às mesas dos brasileiros – a padecer de extremas necessidades em razão da crise provocada pelo coronavírus. E o que tem nesse PL 823/2021 que, segundo Bolsonaro, “contraria o interesse público”?
O PL, meus amigos, prevê – a depender de cada caso – prorrogação, descontos ou renegociação das dívidas rurais dos agricultores familiares, e prevê também o pagamento de um auxílio de R$ 2,5 mil para os que, entre esses trabalhadores, se encontram em situação de pobreza e de extrema pobreza. O PL 823/2021 (Lei Assis Carvalho 11), contudo, não é o único nessa situação.
Outra proposição legislativa integralmente vetada por Bolsonaro — e da qual também me orgulho de ser coautor — é o PL 4113/2020, que visava assegurar o repasse de ao menos 70% dos recursos previstos para parcerias com o terceiro setor durante este período de pandemia de Covid-19. Buscávamos, quando apresentamos esse PL, evitar o contingenciamento ou a interrupção dos repasses públicos para as organizações do terceiro setor.
As entidades que compõem o “terceiro setor” — muitas delas chamadas de ONGs – são organizações da sociedade civil sem fins lucrativos (associações, fundações, etc.), criadas com finalidade pública para trabalhar em parceria com o governo em áreas ou causas relacionadas ao meio ambiente, à educação, à saúde, aos direitos humanos, à economia solidária, à cultura, à proteção aos povos indígenas, entre outras.
Temos no Brasil, hoje, mais de 800 mil dessas entidades auxiliando o Poder Público em trabalhos que envolvem, por exemplo, moradores de rua, pessoas dependentes de drogas, exilados de outros países, mulheres vítimas de violência, proteção aos povos indígenas, proteção às florestas e aos mananciais de água, saúde, educação popular e cooperativas de catadores de material reciclável.
Sem essa garantia estabelecida no PL 4113/2020, o risco de não haver recursos para essas entidades é total. Mas Bolsonaro, mais uma vez alegando “contrariedade ao interesse público”, vetou totalmente o PL.
Ressalto, meus amigos e minhas amigas, que Bolsonaro nunca pediu aos parlamentares de sua base que discutissem conosco o teor de cada um desses projetos de lei enquanto eles tramitavam na Câmara ou no Senado. Ele simplesmente esperou a aprovação das propostas pelas duas Casas para, com o pífio argumento de “contrariedade ao interesse público”, vetar as proposições.
Tenho a esperança, no entanto, de que conseguiremos derrubar esses vetos. E não somente os vetos aos projetos de lei aqui mencionados, como também os que foram aplicados a todas as boas proposições por nós apresentadas. Nós, o povo, venceremos.
Zé Carlos Nunes Júnior é engenheiro civil, ex-Superintendente da Caixa no MA e deputado federal reeleito pelo PT-MA
Artigo publicado originalmente no Jornal Pequeno


