Arquivo mensal: maio 2021

Com UTIs em colapso, Bolsonaro aciona STF em defesa do vírus

31-05-2021 Segunda-feira

Ação movida por meio da AGU visa impedir medidas de restrição de circulação de pessoas em Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte. “Ninguém tem sossego”, reagiu a governadora Fátima Bezerra (PT-RN)

O vírus avança de maneira violenta pelo interior do estado de São Paulo. Vários municípios ultrapassaram o limite máximo da capacidade de ocupação dos leitos de UTI e pacientes estão morrendo nos pronto-socorros dos hospitais enquanto aguardam vagas de UTI, caso das regiões de Franca e Ribeirão Preto. 23 cidades aumentaram as medidas restritivas de circulação de pessoas. 11 decretaram lockdown. Para fazer frente a ações como essas e permitir a livre circulação do vírus, Jair Bolsonaro acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para atingir os governadores .

Por meio da Advocacia Geral da União (AGU), Bolsonaro moveu ações junto ao STF contra os governos de Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Norte para impedir decretos que determinem qualquer adoção de medidas restritivas.

De acordo com a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), a AGU argumenta que o “intuito da ação é garantir a coexistência de direitos e garantias fundamentais do cidadão, como as liberdades de ir e vir, os direitos ao trabalho e à subsistência, em conjunto com os direitos à vida e à saúde de todo cidadão, mediante a aplicação dos princípios constitucionais da legalidade, da proporcionalidade, da democracia e do Estado de Direito”.

A governadora do Rio Grande do Norte Fátima Bezerra (PT) reagiu à investida genocida do líder de extrema direita. “Ninguém tem sossego”, comentou a governadora ao Painel da Folha. “A gente estava celebrando essa conquista grande que foi a inclusão dos trabalhadores da educação no grupo prioritário da vacinação, parecia uma luz no fim do túnel, e aí vem uma notícia dessas”, lamentou.

Sabotagem deliberada

A absurda ação movida por Bolsonaro chega no momento em que o estado governado por Bezerra se aproxima de uma taxa de ocupação de leitos de 90%. A governadora determinou toque de recolher entre 22h e 5h, do dia 22 de maio até 6 de junho, em 37 municípios. Ela pretende recorrer caso as medidas sejam suspensas.

sabotagem deliberada de Bolsonaro ao combate à pandemia segue causando estragos pelo país. De acordo com o último boletim da Fiocruz, 17 estados e o Distrito Federal têm ocupação de leitos de UTI acima de 80%. 10 capitais já ultrapassaram a taxa de 90% de ocupação dos leitos.

Com a chegada da variante indiana ao país nesta semana, especialistas calculam que o sistema de saúde, já em colapso, não terá condições de suportar os efeitos de uma nova onda de infecções por Covid-19.

PT, com informações de Folha de S. Paulo

“Não tem terceira via. É Lula contra o atraso”, diz Teresa Cristina

31-05-2021 Segunda-feira

A cantora diz que está enojada do governo e que luta todos os dias para manter a sanidade, mas é na música que deságua seus sentimentos. “Quero mostrar um Brasil que não morre. Acho que a cultura, a música e a poesia brasileira resistem.”

A cantora e sambista Teresa Cristina é um dos grandes nomes da música brasileira e durante a pandemia, esse período tenebroso que o Brasil vive, encontrou nas lives do Instagram uma forma de superar a triste realidade imposta pela crise sanitária e pela presença de uma figura como Jair Bolsonaro na Presidência da República.

Nos programas que já foram diários, ela recebe artistas da música e do teatro, conversa, canta, chora, ri e acolhe novos artistas, além de descobrir e redescobrir músicas de artistas do panteão da Música Popular Brasileira. O que Teresa Cristina faz é um ato de resistência através da valorização da cultura brasileira.

A programação de lives já foi batizada como “Noites de Teresa” e ela afirma que pretende seguir fazendo mesmo após a pandemia porque é algo que deve ser preservado. “Acho que o que conquistei sozinha eu tenho que preservar. É um lugar meu. Não tem interferência de ninguém. É a minha live, as minhas regras. Tudo que eu quero fazer ali, eu faço”, explica.

Teresa faz questão também de falar sobre política. A cantora critica abertamente o presidente Jair Bolsonaro, seu governo e seus apoiadores e não se exime sobre as próximas eleições. Para ela, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o nome para tirar Bolsonaro do poder.

“Não tem terceira via. É Bolsonaro de novo ou é Lula. Eu só falo em terceira via se for o terceiro mandato do Lula, aí tudo bem”, comenta. Mas o ex-presidente não é a única coisa necessária para o Brasil, na sua opinião. “Eu desejo que o brasileiro pare de pensar em atalhos. O brasileiro tem uma mania de achar que para tudo tem um caminho mais fácil e não existe caminho mais fácil na vida, nada é fácil na vida”, resume a sambista.

Na entrevista concedida à Focus Brasil, no meio da semana passada, Teresa Cristina ainda relembra momentos de lives marcantes, falou sobre como está enfrentando a pandemia, cantou e se emocionou em uma conversa descontraída que pode ser lida a seguir:

Focus Brasil – Tudo bem com você?

Teresa Cristina – Eu nem sei mais como responder essa pergunta [rindo]. Eu não sei. Tem dia que estou bem, tem dia que não estou bem. [Tem dia que] Não consigo dormir.  Tenho sono às vezes em horário que não é pra ter sono. Meio-dia estou como sono, às vezes 4h da manhã não estou com sono. Eu passo raiva lendo notícia… Eu não sei. Todos os dias eu procuro um motivo para estar bem, para ficar bem. E aí eu faço “live” ou faço pesquisa, ou estou compondo.

Focus Brasil – É um pouco resultado da própria pandemia.

Teresa Cristina – Eu fico tentando fugir de vários assuntos, mas fugir estando presa dentro de casa também é complicado. Na verdade, eu fico tentando manter a minha sanidade mental. Então, eu acho que bem, bem, bem eu nunca estive durante a pandemia. Mas eu sempre procuro… [pausa] não pensar. Não pensar. Não pensar no Bolsonaro, não pensar nessa palhaçada que é essa CPI da Covid que não adianta para porcaria nenhuma. Não pensar que a gente poderia estar vacinado já e a gente não está.

Vamos para meio milhão de mortos. E desse meio milhão de mortos, pessoas importantes, catalisadoras. Toda vida é importante, vou deixar bem claro. E me dói muito ver pessoas que poderiam estar vacinadas e não estão, sabe? A gente está com cepas novas. O vírus aqui no Brasil está igual ao bolsonarismo, fazendo o que quer. Não está encontrando nenhum tipo de resistência.

Focus Brasil – Falta consciência e campanhas de esclarecimento.

Teresa Cristina – Algumas pessoas nas ruas estão vivendo como se não tivesse pandemia. Onde eu moro, tem um campo de futebol e todo dia tem futebol, todo dia tem churrasco. Todo dia tem aquela porrada de homem, macho, ali sem camisa, sem máscara, levando Covid pra dentro de casa, sabe? Dependendo do ângulo é assustador. [pausa][sorrindo] Eu acho que você nem merecia ouvir tudo isso. Você só me perguntou se eu estava bem.

Todas as lágrimas que derramo nas lives, considero que são lágrimas de emoção. Então, eu estou trocando. Já que é para chorar, ao invés de chorar de tristeza vendo o noticiário, eu prefiro chorar de emoção com uma canção bonita, com uma letra bonita, lembrar de um artista que a gente gosta, que deixou uma obra bonita. Isso é o que tem me segurado.

Focus Brasil – Mas no meio disso tudo, temos as suas lives. Elas são um acalento?

Teresa Cristina – Olha, não tenho feito todos os dias. Mas eu faço toda semana. Essa semana eu fiz segunda, fiz na terça porque era uma live sobre Nelson Cavaquinho e não deu para fazer em um dia só. Hoje [quarta-feira] estou fazendo outra que é “Tema de novela”, amanhã, faço com a Mônica Salmaso a Batalha [musical].

Ultimamente, tem sido muito importante pra mim, porque eu preciso ocupar o meu tempo com alguma coisa que realmente me distraia. As notícias estão muito cruéis. A realidade está muito cruel no Brasil. Eu nunca senti isso. Eu nunca tive vontade de não ser brasileira. Nunca. Nunca quis sair da minha cidade, carioca. E aí ver o governador do Rio de Janeiro abraçar esse monstro naquela obscenidade que foi aquele passeio de moto à la Mussolini, sabe? Muito triste.

Focus Brasil – Música é arte…

Teresa Cristina – E poder passar uma tarde inteira pesquisando a obra do Nelson Cavaquinho, eu cataloguei 116 músicas, fiz uma live em que se deve ter cantado 30. Tem uma porrada de músicas do Nelson Cavaquinho que eu preciso aprender a cantar. Isso sim me dá esperança, sabe? Fiz uma live sobre Roberto Ribeiro semana passada, sobre Wilson Moreira. Brasileiros que me deem orgulho. Brasileiros que eu olhe e fale “nossa, é brasileiro”. Alguns eu falo: “Eu conheci, estive perto”. Wilson Moreira uma pessoa importantíssima para minha carreira. Então, isso para mim vem sendo importante.

Todas as lágrimas que derramo nas lives, considero que são lágrimas de emoção. Então, eu estou trocando. Já que é para chorar, ao invés de chorar de tristeza vendo o noticiário, eu prefiro chorar de emoção com uma canção bonita, com uma letra bonita, lembrar de um artista que a gente gosta, que deixou uma obra bonita. Isso é o que tem me segurado.

Focus Brasil – O ex-presidente Lula participou de uma live sua. Como você disse, sempre é muito intenso, mas você poderia contar de alguns dos momentos que surpreenderam você?

Teresa Cristina – Ah, tem muita coisa. Tem o dia que o Lula entrou, o dia que entrou o [Fernando] Haddad. A live do aniversário de 81 anos do Antônio Pitanga em que eu convidei o Chico [Buarque], Paulinho [da Viola], Caetano [Veloso], o [Gilberto] Gil. Foi lindo. A live com o João Bosco, ele contando como entrou o Aldir, foi lindo. A live do [José Carlos] Capinam. A primeira vez que a Simone entrou na live eu fiquei muito emocionada porque eu ouço a Simone desde criança. Ter me tornado amiga da Joanna. A live do aniversário da Marisa, eu amei. A live do Realce que o [Gilberto] Gil entrou no final, foi a primeira vez que o Caetano entrou na live. A do Roberto Ribeiro foi muito bonita, emocionante. A live do Wilson Moreira…

Fiz uma live logo depois que o Paulo Gustavo faleceu. Eu nunca tive muita proximidade com o Paulo, mas a gente se conhecia e durante a pandemia ele falou de mim no programa. Ele mandou um áudio lindo para mim que eu vou guardar como um tesouro. E eu percebi que os meus amigos que eram próximos dele estavam muito abalados. Uma tristeza sem fim. E eu resolvi fazer uma live para o [Luís] Lobianco. Ele começou com o Paulo Gustavo lá atrás, fizeram teatro juntos. E eu fiz essa live para agradar o Lobianco. Um amigo, uma pessoa que eu admiro muito, que eu amo. E ele começou chorando e no final da live todo mundo tirou a roupa – claro, ombros nus – bebendo e falando bobagem…

A live que eu fiz sobre a cena pop afro da Bahia com a Margareth Menezes. A Daniela Mercury já entrou várias vezes na live, entrou em “Tema de Novelas”. A live do Djavan durou cinco horas. Depois fiz outra live dele e ofereci para o Silvio Almeida que estava fazendo aniversário e o Djavan entrou e conversou comigo. A live que eu fiz com o Zeca [Pagodinho]. Foi sensacional. Se eu for elencar, vou estar sendo injusta, inclusive, com lives em que não entraram artistas, mas foram incríveis. As autorais que eu faço e conheço os compositores novos. São muitos momentos incríveis.

Bolsonaro nunca fez nada. A família dele é toda suja. É todo mundo envolvido em algum tipo de falcatrua, os filhos bandidos, não pára. É um caracol de merda. A gente perde até o prumo. Não sei mais o que você me perguntou.

Focus Brasil – O Instagram armazena tudo isso, mas é algo histórico. No momento em que vivemos aparecer essa valorização da cultura brasileira é importante. Você já pensou sobre o que vai fazer com todo esse material no futuro?

Teresa Cristina – Eu quero publicar isso. Já estou vendo como fazer, inclusive. Além de fazer parte da minha história, acho que é um belo retrato do que foi 2020, do que está sendo 2021. Mostrar um Brasil que não morre. Acho que a cultura brasileira, a música brasileira, a poesia elas resistem. Resistem muito. Ou através da obra que ficou, ou através dos nossos intérpretes, ou da força de um compositor. Tem artistas que não morrem. Um Belchior não morre, um Gonzaguinha não morre, um Aldir Blanc não morre. E como um artista desse não morre, quando ele é lembrado, quando a obra dele é passada adiante para alguém que nunca ouviu falar daquela pessoa. Eu fico muito feliz quando eu encontro um jovem que fala: “Ah, quem foi Elis Regina?”, [rindo] Dá vontade de agredir? Pode até dar, mas você fala:“Você não sabe quem é Elis Regina, então ouve isso aqui”. É legal.

Eu fiz a live do Roberto Ribeiro, algumas pessoas entraram e falaram que nunca tinham ouvido. Foi bom saber que estou sendo a primeira pessoa a apresentar o Roberto Ribeiro para alguém. Isso também tem uma graça, uma magia, apresentar um artista para alguém. Roberto Ribeiro é um artista muito importante para o samba. Uma pessoa muito dedicada. Ele gravou tudo, samba, bossa nova, MPB, ritmos brasileiros folclóricos e uma voz que depois que você ouve, nunca esquece.

Focus Brasil – Você poderia escolher uma música que possa representar um pouco tudo isso que o Brasil está vivendo?

Teresa Cristina – Algumas, né. Acho que “De volta ao começo”, do Gonzaguinha, talvez seja uma das que eu mais cantei durante as lives. Toda hora eu dou um jeito de colocar essa música. Acho que tem a ver por causa dessa volta do Lula na política, esses valores tão caros que a gente tem e que estão sendo achincalhados por essa horda de gente feia, ignorante, cafona, malvada, corrupta. São monstros, né? Eu considero monstros.

Hoje, eu acordei e a primeira notícia que eu tive o desprazer de ver foi de um deputado, eleito aqui pela minha cidade, que criou um projeto pela extinção da UERJ… Extinção da UERJ [estarrecida]. A UERJ foi a universidade em que eu estudei, foi a primeira universidade a implementar o sistema de cotas, ela tem um nível acadêmico altíssimo. É uma universidade que está o tempo todo sendo massacrada. Como a pessoa tem a pachorra de fazer um negócio desse?

A gente está no meio de uma pandemia com quase meio milhão de pessoas mortas e vem um espírito sem luz desse e coloca um negócio assim… Claro que isso não vai passar, mas só o fato de ser notícia como se isso fosse possível. É um lamaçal. A gente vai ter que tirar essas pessoas na vassourada. Sei lá o que a gente tem que fazer pra varrer esse povo ignorante, burro, mal intencionado, corrupto. São muitas péssimas qualidades atribuídas a um grupo de pessoas que sempre estiveram à margem da sociedade, à margem da cultura, à margem de tudo o que prestasse. É aquele tipo de pessoa que a gente não dava voz porque era ignorante. O Bolsonaro nunca teve voz porque ele nunca foi nada, ele sempre foi um merda. Ele sempre foi um zero à esquerda para o Exército, para qualquer lugar. Ele nunca fez nada. A família dele é toda suja. É todo mundo envolvido em algum tipo de falcatrua, os filhos bandidos, não pára. É um caracol de merda. A gente perde até o prumo. Não sei mais o que você me perguntou.

Focus Brasil – Pedi que você indicasse algumas músicas que pudessem significar esse momento. Você indicou a “De volta ao começo”, do Gonzaguinha.

Teresa Cristina – Então, “O primeiro jornal” que também foi uma das músicas que eu mais cantei nas lives, que é da Sueli Costa com o Abel Silva. A música fala de uma mulher tentando agradar o homem que ela ama antes que ele leia a primeira notícia do jornal. É uma graça, uma música linda. Foi gravada pela Elis. Uma outra música, “Aos nossos filhos” também gravada pela Elis, do Ivan Lins e do Vitor Martins. Tem uma música que foi gravada pelo Chico com o MPB 4 chamada “Cara a cara”. [canta] “Tenho um peito de lata/ E um nó de gravata/ No coração/ Tenho uma vida sensata/ Sem emoção/ Tenho uma pressa danada/ Não paro pra nada/ Não presto atenção/ Nos versos desta canção Inútil/ Tira a pedra do caminho/ Serve mais um vinho/ Bota vento no moinho/ Bota pra correr/ Bota força nessa coisa/ Que se a coisa para/ A gente fica cara a cara/ Cara a cara cara a cara/ Com o que não quer ver”. É isso.

Você quer um herói real, olha aí o Lula. Esse cara foi demonizado desde antes de ele assumir Presidência pela primeira vez. Ele já foi preso antes de ser presidente. Ele foi eleito e nunca teve a mídia a favor dele. Mesmo depois de demonizado por anos, é um cara que pode ganhar do Bolsonaro no primeiro turno.

Focus Brasil – Imaginando que a pandemia vá chegar ao fim, o que você deseja para o futuro próximo, para 2022?

Teresa Cristina – Eu desejo que o brasileiro pare de pensar em atalhos. O brasileiro tem uma mania de achar que para tudo tem um caminho mais fácil e não existe caminho mais fácil na vida, nada é fácil na vida. O brasileiro acredita na fake news porque ele quer acreditar naquilo. E a gente tem uma coisa de ficar sempre esperando o próximo herói. Com esse pensamento se elegeu o Collor que fodeu com a classe média, na verdade. Com essa coisa de confiscar a poupança, ele mexeu com a classe média e rapidinho foi deposto.

Só que o Bolsonaro não está fodendo com a classe média. Muita gente está ganhando dinheiro com o governo dele. O Bolsonaro está matando pobre, preto, bicha, veado, sapatão, mulher, criança preta favelada. É esse nicho que ele está matando. Essas pessoas não têm tanto poder na mídia. Toda vez que eu ouço alguém dizer assim, “mas pra quê ficar gritando fora Bolsonaro, ano que vem ele sai, vamos esperar”. A pessoa que fala isso, está com uma quantidade de camadas de privilégios que não tem ideia do que está falando, ela não tem a noção do quanto está sendo caro manter esse cara no poder.

Só que ele foi eleito, ele teve gente que o elegeu. E as pessoas continuam cegas achando que ele é um herói. De herói ele não tem nada. Ele é um covarde, um belo de um covarde. Assim como aquele outra que foi lá dar depoimento e se “cagou nas calças”. O cara é uma alta patente do Exército e está indo trabalhar de “calça marrom”, sabe? Eu acho que a gente tem que pensar mais em política, parar com essa palhaçada de que não se discute futebol, política e religião. A gente está nessa merda por causa disso. Ninguém deixou de discutir futebol. O Brasil está entregue à Igreja Universal do Bispo Macedo porque a gente não discute religião. “Ah, não vamos discutir política”, aí elege um Bolsonaro, os filhos dele, um cara que quebrou a placa da Marielle, um cara que quer acabar com a UERJ, literalmente. A gente tem que parar com essa falsa discussão de que isso não se discute. Discute, sim. A problematização existe para a gente viver melhor, para um futuro melhor. Não adianta também o Bolsonaro ir embora e a gente ficar achando que vai vir mais um grande herói que vai acabar com alguma coisa. Não existe isso.

Você quer um herói real, olha aí o Lula. Esse cara foi demonizado desde antes de ele assumir Presidência pela primeira vez. Ele já foi preso antes de ser presidente. Ele foi eleito e nunca teve a mídia a favor dele. Mesmo depois de demonizado por anos, é um cara que pode ganhar do Bolsonaro no primeiro turno. Que pessoa é essa, que político é esse, o que esse cara tem que ainda está vivo? Ainda está falando em Brasil, preocupado com o Brasil. Pessoas sérias lá de fora quando querem falar de Brasil usam o nome dele, o governo dele. Então, para que esse olhar tão lunático procurando um herói?

Uma coisa que me irrita muito, “ah, não, vamos pensar em uma terceira via”. Não tem terceira via. É Bolsonaro de novo ou é Lula. Eu só falo em terceira via se for o terceiro mandato do Lula, aí tudo bem. Mas se não for não me venha com esse papinho de terceira via, com esse papinho de Ciro Gomes 1%. Não quero. Não quero. Não acho que a gente possa brincar nesse momento. E esse “cara” [Bolsonaro] também não está morto, porque quem tem dinheiro não está morto. Ele não tem limite, não tem moral.

Focus Brasil – Do que você mais está com saudade?

Teresa Cristina – [Longa pausa, pensando] Estou com saudade de gente, mas não é essa gente do Leblon, essa gente que está indo para festa durante a pandemia, não. Estou com saudade de gente, da minha gente. Estou com saudade de uma roda de samba. Da segunda-feira no Renascença. Toda segunda-feira eu me lembro [emocionada]. Dá uma dorzinha. Eu até evito de ficar falando isso com o Moacyr [Luz]. Ninguém merece. Se eu estou assim, imagina ele. Então, eu não falo, mas dói.

Focus Brasil – Quando a pandemia acabar, vamos continuar tendo “Noites de Teresa” ou vai mudar?

Teresa Cristina – Não. Eu acho que foi uma conquista minha. E acho que o que conquistei sozinha eu tenho que preservar. É um lugar meu. Não tem interferência de ninguém. É a minha live, as minhas regras. Tudo que eu quero ali, eu faço. Então, acho muito interessante ficar pesquisando e falando de artistas. Por exemplo, quando fiz a live sobre o Roberto Ribeiro, eu descobri que a mãe do filho dele, também era compositora, fez vários sucessos dele. Então, agora estou à caça das músicas dela. Isso é uma coisa que eu não quero parar. É muito gostoso encontrar as pessoas, conhecer gente nova, um artista novo. É muito legal poder falar com gente que eu admiro, poder falar com Fausto Nilo, nunca tinha falado com ele na minha vida. Reencontrei também um compositor do Maranhão chamado Josias Sobrinho, que fez uma música que eu ouvia na minha infância, “Engenho de flores”, e o cara está lá no Maranhão e eu conseguir falar com ele. Isso é muito bom. Eu também sou tiete, né? Eu sou artista, mas  gosto de encontrar as pessoas que admiro, de saber como a pessoa é. E, também gosto de trazer gente, de descobrir pessoas. As vezes aquela pessoa é tão talentosa e ela só está esperando uma oportunidade para alguém conhecer, ouvir o que ela está fazendo. É tão ruim fazer uma canção e ninguém ouvir, ou trabalhar, trabalhar e só ouvir não. Às vezes conheço compositores novos, e você vê na live a beleza da pessoa aparecendo, o olho brilhando. É uma sensação muito boa que eu estou usando no lugar da minha libido. Pandemia, libido zero, então, isso é o que me dá tesão ultimamente. É ver gente feliz, tirar felicidade das pessoas. É uma coisa que me deixa acesa.

Por Pedro Camarão para a revista Focus Brasilda Fundação Perseu Abramo

Deputados do PCdoB destacam importância da luta anti-Bolsonaro no #29M

31-05-2021 Segunda-feira

Parlamentares do PCdoB comentaram, em suas redes sociais, neste final de semana, a importância dos atos que reuniram milhares de pessoas nas capitais e diversas outras cidades do país, no sábado (29), contra o governo Bolsonaro, em defesa da vacinação e do auxílio emergencial de R$ 600 e chamaram atenção para a falta de cobertura de alguns dos principais veículos de comunicação, que ignoraram deliberadamente a grande manifestação popular.

“Não adianta não pôr nas capas dos jornais e tentar esconder que o ato contra o governo genocida foi gigante. Não adianta tentar calar a voz do povo. Fora Bolsonaro”, disse o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA). O parlamentar salientou ainda que o 29 de maio “foi gigante”. “O país toma fôlego e vigor para se impor contra Bolsonaro e seu governo de retrocesso e genocídio. Artistas, lideranças, associações e a sociedade em peso, na luta pela vida e pela democracia. Que união potente! Que sigamos nessa energia”.

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) destacou: “Não foi um grande delírio coletivo como a grande mídia tentou passar. Foi um ato necessário mesmo em meio a pandemia! Fomos às ruas com responsabilidade e pelo impeachment de Bolsonaro”.

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC) também falou sobre os atos: “Pensei muito antes de ir para a manifestação, porque também tenho muito medo do vírus. Mas meu medo de que o Brasil permaneça nas mãos de milicianos e genocidas, é muito maior. Não foi em vão o risco que corremos em estarmos ali. Não podemos e não vamos nos calar! Vale a pena não desistir e lutar pelo nosso Brasil”.

A deputada federal Professora Marcivânia (PCdoB-AP) declarou: “Há esperança, sim! As ruas, ontem, demonstraram claramente isso. Não será fácil e dará muito trabalho, mas iremos derrotar esses incompetentes, liderados por um presidente patético e sem qualquer empatia pelo povo  pobre. Mas nunca foi fácil, não é minha gente? Firmes na luta”.

A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) enfatizou as palavras de ordem dos protestos: “Queremos vacina no braço, comida no prato e educação para o nosso povo. O Brasil é maior que Bolsonaro”.

Orlando Silva, deputado federal do PCdoB-SP, salientou que o 29 de maio “foi histórico e mostrou que as ruas não são dos fascistas. Maiores são os poderes do povo”.

Por Priscila Lobregatte

Vacinação em massa derruba mortes e casos de Covid-19 em Serrana, no interior de SP

Segundo levantamento do Butantan, o controle da transmissão no município se deu quando 75% da população estava vacinada. No país, apenas 10,42% já receberam a segunda dose e casos e mortes continuam altos

Se o governo de Jair Bolsonaro (ex-PSL) tivesse comprado vacinas e respondido os dez e-mails da Pfizer em 2020, o Brasil inteiro estaria seguindo os passos de Serrana, cidade do interior de São Paulo, que viu o número de mortes pela Covid-19 cair em 95% depois da vacinação em massa promovida pelo Instituto Butantan, que produz a CoronaVac.

No Brasil, o ritmo da tragédia segue acelerado. Nas  24 horas entre o sábado e o domingo, o Brasil registrou 950 mortes por Covid-19, totalizando 462.092 óbitos desde o início da pandemia. É o terceiro aumento seguido.

Já em Serrana, cidade que fica a 315 km da capital paulista, estudo do Butantan mostrou que o número de casos sintomáticos começou a cair, assim como o número de internações quando cerca de 75% da população foi imunizada, o que indica que esse é o porcentual de imunizados que o Brasil precisa para atingir a imunidade de rebanho e frear o vírus.

Com mais de 87% da população vacinada, segundo dados divulgados pela TV Globo, o número de novos casos de Covid-19 em Serrana caiu de 699 em março para 251 em abril. Já o de mortes passou de 20 para 6 no mesmo período.

Enquanto isso, o Brasil de Bolsonaro continua patinando na vacinação porque não levou a sério o combate a doença e  ignorou diversos e-mails entregues pela Pfizer oferecendo a vacina contra a Covid, como mostrou a CPI da Covid-19. Entre 14 de agosto de 12 de setembro, quando o presidente da Pfizer enviou uma carta ao governo federal, foram ao menos 10 e-mails enviados pela farmacêutica. As mensagens discutiam as propostas de vacina contra Covid-19 e cobravam uma resposta formal do governo, que ignorou todos os emails.

Quase um ano e meio da pandemia do novo coronavírus e com vários países voltando à normalidade porque já vacinou a maioria da população, o Brasil registra apenas 22.063.266 doses aplicadas, o que corresponde a 10,42% da população do país, o que é muito pouco.

Maranhão e Mato Grosso avançam na vacinação

Os estados do Maranhão e o Mato Grosso colocaram os trabalhadores e trabalhadoras da comunicação e construção civil na lista de prioridades da vacina.

Os estados decidiram incluir as duas categorias por conta própria, já que não constam do Plano Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, os grupos que deveriam receber primeiro a imunização. Também estão sendo imunizados em alguns estados novos grupos, esses sim previstos no PNI, como moradores de rua, caminhoneiros e trabalhadores de portos, ferrovias e aeroportos.

No Maranhão, a vacinação valerá não apenas para jornalistas, mas para todos os funcionários de rádios, jornais, portais jornalísticos e emissoras de televisão, incluindo auxiliares administrativos, motoristas e auxiliares de serviços gerais.

A vacinação de profissionais da construção civil, outra categoria não prevista no plano de vacinação do Ministério da Saúde, também já iniciou.

Cuiabá também seguiu os mesmos passos e começou a vacinação de profissionais que atuam em veículos de comunicação. Profissionais como repórteres, fotógrafos, cinegrafistas, profissionais envolvidos na cobertura do dia a dia da capital mato-grossense e assessores de imprensa foram incluídos nos grupos prioritários de vacinação por exercerem uma atividade considerada essencial.

“Normalidade turbina terceira onda

O mais novo Boletim InfoGripe divulgado pela Fundação Oswaldo cruz, Fiocruz, nesta sexta-feira (28, avalia que a retomada precoce das atividades em praticamente todo o Brasil é a principal causa de uma nova onda do novo coronavírus.

Com a normalização da mobilidade diante de números ainda muito altos de casos e mortes, a doença voltou a circular com intensidade, segundo a Fiocruz. Assim, tornou-se praticamente inevitável o recrudescimento da pandemia.

Há mais de 75% de chances de que essa piora ocorra em onze unidades da federação, inclusive São Paulo, e de 95% em outras três, segundo o levantamento.

“O estudo sinaliza que o cenário atual está associado à retomada das atividades de maneira precoce”, afirmou o pesquisador da Fiocruz Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.

CUT

Artigo de Weverton Rocha: Viva o SUS!

31-05-2021 Segunda-feira

No Brasil, 7 em cada 10 pessoas dependem exclusivamente do SUS para ter acesso a tratamento. É o que diz o IBGE. Esse dado revela a importância da garantia da assistência pública e universal de saúde, implantada há 30 anos no nosso país. O sistema “padece de vicissitudes”, como diz o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga? Sim, padece, mas isso é não é resultado do modelo e sim da falta de investimento sistemática, com cortes sucessivos no orçamento da saúde. A solução é fortalecer o SUS.

Muitos hospitais de fato estão desaparelhados, há falta de profissionais e até de medicamentos e insumos. A população reclama, com razão, que há demora no atendimento e longas esperas por marcação de consultas. Mas ainda assim, com todos os problemas e dificuldades, é o SUS que garante o atendimento da maior parte dos brasileiros, pessoas que não tem condição de pagar por um plano de saúde, muito menos por uma internação particular, e até mesmo de pessoas que tem plano de saúde.

Atribuir os maus números da pandemia no Brasil à falta de condições do SUS, como fez o ministro, é não só um equívoco, como uma enorme injustiça. O país registrou até hoje mais de 16 milhões de casos de covid. A grande maioria foi testada, atendida e, quando necessário, tratada em unidades públicas de saúde. Se essas pessoas simplesmente não fossem atendidas por não ter como pagar seria o caos.

Já há algum tempo, venho colocando boa parte dos recursos das minhas emendas parlamentares para a manutenção de unidades básicas de saúde nos municípios, compra de equipamentos e atendimento de média complexidade. Ajudo como posso, porque acredito no sistema e vejo a saúde pública e gratuita como uma grande conquista do Brasil, que durante essa pandemia se mostrou ainda mais acertada e importante.

Se o SUS tivesse sido usado com toda a sua capacidade e com os investimentos necessários, o Brasil teria sido um exemplo mundial de testagem da covid, atendimento básico de pacientes e agora de vacinação. Se não o fez, é porque não recebeu a atenção e os recursos necessários. Pelo contrário, desde 2004 não há reajuste de valores do SUS e para piorar o governo federal optou por congelar o orçamento da saúde, a fim de garantir o pagamento da dívida, e no pior momento da pandemia cortou 72% da verba destinada à manutenção de leitos de UTI.

Ainda assim, com todos esses entraves, o SUS conseguiu salvar muitas vidas. Precisamos reconhecer isso e continuar lutando pelo fortalecimento da saúde pública, com valorização dos profissionais, boa gestão e ampliação de recursos. É um direito constitucional dos brasileiros, que precisa ser defendido e melhorado cada vez mais. Viva o SUS!

Weverton Rocha é senador pelo PDT-MA

Flávio Dino adia agenda política para manter prioridade total à guerra contra o coronavírus

30-05-2021 Domingo

O governador Flávio Dino (PCdoB) resolveu suspender temporariamente o processo de articulação política visando mobilizar a aliança partidária que lidera em torno de um candidato de consenso à sua sucessão, para dedicar prioridade total à guerra contra o novo coronavírus no Maranhão. Ontem, ele suspendeu a reunião marcada para esta Segunda-Feira (31), com líderes partidários, quando iniciaria o processo de consultas para definir até o final do ano o nome do grupo para liderar a chapa da qual participará como candidato ao Senado. Até o início da tarde de ontem, Flávio Dino estava inclinado a ajustar sua agenda de Segunda-Feira para fazer a reunião, mas diante do aumento da pressão da pandemia, decidiu adiá-la para o final de Junho, quando, acredita, a situação esteja mais propícia à retomada das articulações políticas.

“A prioridade total é o combate ao coronavírus”, escreveu o governador em resposta a uma indagação da Coluna sobre a reunião. Ele passou todo o sábado mergulhado no acompanhamento da violenta pressão que a pandemia vem fazendo sobre o Sistema Estadual de Saúde – aí incluídas as redes pública e privada -, que vêm convivendo diuturnamente com a ameaça de colapso. Mesmo sendo o estado que proporcionalmente registra o menor número de óbitos em relação à população, graças ao esforço gigantesco feito pelo Governo do Estado, o Maranhão vem registrando alta no número de mortes, segundo os balanços diários feitos pelo Consórcio de Meios de Comunicação, publicados nos principais telejornais do País.

Os números do Maranhão divulgados ontem pela Secretaria de Estado da Saúde não deixam dúvida. Desde que começou a contabilizar casos e perdas, o Maranhão já registrou 289.670 casos confirmados. Desses, 26.153 foram casos ativos, que causaram 8.100 mortes, enquanto 255.417 infectados se recuperaram plenamente. Dos casos ativos, 24.620 estão em isolamento familiar, enquanto 933 encontram-se internados em leitos de enfermaria, sendo 125 na rede privada e 808 na rede pública, e 600 em leitos de UTI, sendo 119 na rede privada e 481 na rede pública. Por conta dessa pressão, A Ilha de São Luís está com 98,14% dos seus 269 leitos de UTI exclusivos para Covid ocupados, com apenas cinco desocupados. Já em relação aos 532 leitos clínicos para Covid, 91,17% estão ocupados, restando livres apenas 47.

Esse cenário, que especialistas enxergam como sendo prenúncio da chamada “terceira onda” fez com que o governador Flávio Dino tomasse a decisão de suspender temporariamente as articulações em busca de um grande entendimento entre o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) e o senador Weverton Rocha (PDT), ambos pré-candidatos assumidos a governador. Há pouco mais de um mês, a Coluna publicou que o governador definira uma agenda de consultas e articulação política, trabalhando com a previsão de chegar ao final deste ano com a situação resolvida, seja com um acordo em torno de um nome, ou com os dois aspirantes partindo para o embate nas urnas. E a reunião marcada para amanhã e agora suspensa seria o primeiro passo naquela direção.

Com a previsão de que o processo será iniciado no final de Junho, quando o governador Flávio Dino espera haver clima para a movimentação política, o vice-governador Carlos Brandão e o senador Weverton Rocha terão mais um mês para trabalhar junto a aliados e fortalecer seus cacifes. Devendo o mesmo acontecer com Simplício Araújo, que se lançou pré-candidato pelo Solidariedade, partido que preside.

Além do processo de escolha do candidato da aliança situacionista à sua sucessão, Flávio Dino tem pela frente também a complexa tarefa de decidir o seu futuro partidário. Nesse contexto de incertezas, ele tem dois caminhos: apostar numa fusão do PCdoB com o PSB, dando origem ao Socialistas, pelo qual disputaria o Senado, migrar pura e simplesmente para o PSB, o que é improvável, ou então permanecer no PCdoB, encarando o risco de o partido ser engolido pela Cláusula de Barreira. Flávio Dino definiu o dia 13 de Junho, Dia de Santo Antônio, o casamenteiro, como data-limite para resolver sua vida partidária. Essa decisão também poderá ser adiada se a pressão do novo coronavírus sobre o Sistema Estadual de Saúde continuar.

Repórter Tempo

Flávio Dino pode se filiar ao PSB em junho; PCdoB defende criação da “federação partidária”

30-05-2021 Domingo

Por Clodoaldo Corrêa

Ainda sem bater o martelo sobre a eleição presidencial de 2022, o PSB prepara a filiação de lideranças do PCdoB, como o governador do Maranhão, Flávio Dino, o deputado federal Orlando Silva (SP) e a ex-deputada Manuela D’Ávila (RS). Todos têm se manifestado favoravelmente a uma chapa encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assim como o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), outro nome que costura seu embarque no PSB.

Previstas para começar em junho, as filiações aguardam o afunilamento de propostas de reforma eleitoral na Câmara. A direção do PCdoB defende a criação da “federação partidária”, modelo em que partidos podem se unir nas eleições sem que deixem de existir de forma autônoma. Embora agrade ao PCdoB, a ideia encontra resistência no PSB, que considera o modelo antagônico à “autorreforma” feita pela sigla em 2019. Nesta quarta-feira, ao debater aspectos gerais desta autorreforma numa live com Dino, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o governador tem uma “coincidência de pontos de vista” e “poderia perfeitamente estar filiado ao partido, se quiser”.

— Vemos com simpatia as filiações de todos esses nomes (Dino, Freixo, Manuela e Orlando), serão muito bem-vindos. Mas respeitando os trâmites internos de seus partidos. O PCdoB colocou a necessidade de aguardar a reforma eleitoral. Há alternativas à federação, como a possibilidade de incorporação pelo PSB — afirmou o deputado Julio Delgado (PSB-MG), vice-presidente de relações interpartidárias da sigla.

O modelo de federação é o plano prioritário do PCdoB para tentar superar a cláusula de barreira, que exigirá dos partidos no mínimo 2% dos votos em âmbito nacional para que tenham acesso a verba pública e ao tempo de TV. O partido já não atingiu a barreira em 2018, com parâmetros mais brandos. Na federação, os partidos precisariam atuar conjuntamente no Legislativo, numa espécie de coligação mais rígida. Um projeto de lei sobre o tema foi aprovado no Senado em 2015, mas está parado na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A expectativa do PCdoB é que ele seja votado ainda em junho.

Outra aposta é que o tema entre no relatório da reforma eleitoral, da deputada Margarete Coelho (PP-PI), que será apresentado às comissões da Casa no próximo mês. Para valer em 2022, as alterações precisam ocorrer até outubro.

Em nota no dia 15, o comitê central do PCdoB disse que, sem a federação, o partido “irá procurar alternativas de frentes políticas”, sem detalhar quais. O partido estipulou o começo de junho como prazo máximo para avaliar se há viabilidade da federação para 2022. As alternativas, segundo apurou o GLOBO, são a fusão ou incorporação ao PSB.

Na fusão, os dois partidos se juntam para elaborar um novo estatuto, num processo mais demorado. Na incorporação, uma das legendas decide se adota trechos do programa da sigla incorporada. Reservadamente, lideranças do PCdoB admitem retomar conversas por uma fusão com o PSB, pausadas antes das eleições municipais, mas não falam por ora em negociar uma incorporação. Nesse cenário, a migração em bloco de nomes do PCdoB antes de 2022 passou a ser cogitada como sinalização de boa-fé entre as duas legendas, além de permitir a nomes como Dino e Manuela maior estrutura e recursos para disputar cargos majoritários nos seus estados no próximo ano. No PSB, mudanças de nome ou de programa não são cogitadas por ora.

— Há um diálogo entre PSB e PCdoB que pode trazer convergências, mas é preciso antes vencer a etapa de mudanças na lei eleitoral. Nossa posição é lutar pela federação. O que entendemos por fusão é que dois se juntam para formar uma terceira coisa — disse o deputado Orlando Silva.

Início de junho
Dino, que tem conversas mais avançadas, pode fazer a mudança de partido já no início de junho. O governador do Maranhão já alinhou com o PSB que concorrerá ao Senado. O PSB não descarta se coligar ao PT, seja na chapa presidencial ou em palanques locais, mas seguirá mantendo por ora o apoio à construção de uma terceira via nacional, tese mais forte em diretórios de estados como Minas e São Paulo, mas presente também em alas de estados mais “lulistas”, como Pernambuco.

A filiação de Orlando Silva, ex-ministro do governo Lula, é tida como importante para consolidar um apoio petista à candidatura de Márcio França (PSB) ao governo de São Paulo — Fernando Haddad (PT) também é cotado para concorrer ao cargo. No caso de outros nomes do PCdoB, a migração ao PSB serviria para reforçar as estruturas partidárias em estados importantes para ambos, como Pernambuco e Maranhão.

Assim como Dino, a filiação de Freixo é tida como bem encaminhada no PSB, mas, segundo Delgado, houve uma “trava” devido a uma tentativa recente da cúpula do PSOL de pactuar a permanência do deputado, pré-candidato ao governo do Rio. Embora dirigentes do PSOL defendam um “meio-termo” com Freixo, o partido não modificou seu veto a alianças fora da esquerda. Freixo se isolou no PSOL fluminense ao defender uma chapa com nomes do chamado “centro político”, classificado no partido como “direita liberal”, e abrir conversas com o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM).

Procurados, os presidentes do PSB, Carlos Siqueira, e do PSOL, Juliano Medeiros, não quiseram comentar. O GLOBO não conseguiu contato com a presidente do PCdoB, Luciana Santos.

O Globo

Maranhão é destaque na redução do risco de mortalidade materna na América Latina

30-05-2021 Domingo

“Esse hospital foi uma benção na minha vida. Eu tive a oportunidade de acompanhar o esforço e o trabalho das equipes para me ajudar. Quando entrei na UTI para visitar meu filho, vi muitos médicos lutando para ajudar as crianças”, conta a vendedora Maria Tatiane Santos, 20 anos. A moradora do município de Itapecuru Mirim está há cerca de dois meses na Maternidade de Alta Complexidade do Maranhão (MACMA) acompanhando o seu filho prematuro Miguel, que está na Unidade de Cuidados Intermediários Canguru (UCINCa). 

Maria Tatiane teve uma gestação gemelar de risco e uma das crianças veio a óbito ainda dentro da barriga, por conta da complicação. Por conta do risco, a paciente foi encaminhada para a Maternidade de Alta Complexidade do Maranhão, unidade que integra a rede da Secretaria de Estado da Saúde (SES), e que é referência para atendimento a gestantes de alto risco. Foi por conta desse trabalho realizado na UTI que a unidade foi destaque entre as UTIs Maternas da América Latina, em 2020, por reduzir o risco de mortalidade entre esse público. 

“É com muito orgulho que a gente observa o retorno de todo o trabalho que vem sendo realizado pelo Governo do Estado. Nosso trabalho tem um único objetivo: salvar vidas. Ver que estamos alcançando passos importantes para reduzir a mortalidade materna, nos faz crer que estamos no caminho certo. Vamos seguir em frente, investindo em melhorias”, ressalta o secretário de Estado da Saúde, Carlos Lula.  

O médico intensivista Carlos Sousa explica que, considerando o índice que prevê mortalidade em UTIs na América Latina, a UTI da MACMA conseguiu diminuir o risco de morte relacionado à gravidade dos casos.  

“Assim que uma paciente entra na UTI ela é elencada com uma pontuação e essa pontuação prevê a taxa de mortalidade dela na UTI. Se a paciente foi internada e teve previsão de evolução a óbito e realmente evolui a óbito na UTI, esse índice é 1. Se ela não teve a previsão de evolução à morte e morreu, esse índice é acima de 1, e isso é ruim. Agora, se ela entrar com a previsão de evolução para óbito e não morrer, esse índice é abaixo de 1”, explica o médico. 

Ele complementa que o destaque ultrapassa o território nacional. “As UTIs na América do Sul são um parâmetro para esse índice e a UTI Materna da Macma obteve o índice de 0,87. O que é um valor muito bom, pois significa que a nossa UTI foi protetora em relação à mortalidade materna. UTIs particulares costumam ter a mortalidade sempre abaixo de 1, mas esse índice é difícil de ser atingido pelas unidades do SUS”, afirma o médico Carlos Sousa. 

Em termos percentuais, 13% das pacientes que deram entrada nas UTIs da MACMA com grandes chances de ir a óbito, não morreram. Dessa forma, a MACMA consegue ter um índice de qualidade equivalente aos serviços de UTI particulares. Índice que se deve aos investimentos realizados pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) e pelo Instituto Acqua na unidade, além do trabalho multiprofissional que é ofertado para os pacientes da UTI. 

Investimentos

Maternidade de Alta Complexidade do Maranhão é destaque entre UTIs Maternas da América Latina (Foto: Divulgação)

Entre as ações que cooperaram para a melhoria no atendimento da unidade, também está a instalação de 18 leitos de UTI Materna e a ampliação dos leitos de UTI Neonatal, que agora são 30. “Essa estruturação possibilitou a melhoria da assistência tanto para as mães quanto para as crianças que precisam de terapia intensiva. Isso também proporcionou a diminuição do óbito neonatal e perinatal, devido a disponibilidade maior de leitos. A maternidade avançou muito com todas essas vantagens proporcionadas pelo compromisso que a SES e o Instituto Acqua têm para com essa instituição”, pontuou o diretor clínico da MACMA, Hilmar Ribeiro Hortegal.  

Além de investimentos físicos, também foi investido na capacitação dos colaboradores, através de projetos como o Lean, realizado através de um treinamento feito por representantes do Hospital Sírio Libanês, que promoveu melhorias no fluxo de atendimento. Os cuidados às gestantes de alto risco também foram intensificados com a Rede Cuidar, serviço pioneiro no Maranhão.

A Rede Cuidar tem o intuito de agilizar o atendimento de intercorrências nos municípios dentro da unidade de saúde com maior capacidade de receber casos de alta complexidade de gravidez de risco.  

Entre os mais recentes investimentos na unidade está a entrega de 10 novos leitos de UTI no primeiro semestre de 2021 para casos de Covid-19 e 59 novos leitos clínicos para casos de Covid-19, estrutura que vem contribuindo para salvar a vida de muitas mães que foram diagnosticadas com a doença.

Mídia estrangeira sobre o 29M: “Bolsonaro é mais perigoso que o vírus”

30-05-2021 Domingo

Principais veículos do mundo noticiam atos de sábado, chamam gestão da pandemia de “nefasta”, lembram inocência de Lula e destacam o declínio da popularidade de Bolsonaro

O protesto contra Jair Bolsonaro realizado no sábado (29) foi tão estrondoso que mereceu amplo destaque na imprensa internacional. Pelo menos dois grandes jornais europeus — o francês Le Monde e o britânico The Guardian — transformaram as manifestações que ocorreram em todo o país e no exterior nas principais manchetes de seus sites enquanto os atos ocorriam.

O diário francês escolheu como chamada uma das frases que se lia nos cartazes dos manifestantes: “Ele é mais perigoso que o vírus: no Brasil, novas manifestações contra Bolsonaro”. Na reportagem, o Le Monde explicou que os protestos buscam tirar do poder Jair Bolsonaro, “cuja popularidade está em acentuado declínio e de quem a maioria dos brasileiros (57%, segundo o instituto PoderData) agora quer a demissão”.

Já o Guardian, outro que deu manchete ao histórico 29 de Maio, anunciava no título: “Dezenas de milhares de brasileiros marcham para exigir o impeachment de Bolsonaro”. A matéria destaca que se tratou do maior ato contra Bolsonaro desde o início da pandemia e que ocorreu em mais de 200 cidades.

“Dezenas de milhares de manifestantes foram às ruas das maiores cidades brasileiras para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro devido à sua catastrófica resposta à pandemia de coronavírus, que já levou quase meio milhão de vidas brasileiras”, informa o diário.

PT

Com a popularidade em queda, Bolsonaro reativa a máquina de mentiras

30-05-2021 Domingo

O presidente e aliados buscam impedir as plataformas de banir usuários por conta própria e apostam na desmoralização das urnas eletrônicas.

por Ana Flávia Gussen

O menosprezo de Jair Bolsonaro pelos mais de 450 mil mortos, a inoperância administrativa, a falta de um plano econômico, a CPI da Pandemia e os escândalos no Ministério do Meio Ambiente cobram seu preço. O ex-capitão amarga sua menor popularidade desde o início do mandato. A esta altura, apenas um quarto dos eleitores considera seu governo ótimo ou bom, enquanto mais da metade o define como ruim ou péssimo. Diante de cenário desalentador como este, um governante sensato buscaria entender os motivos da impaciência popular e ajustaria os rumos. Mas a sensatez abandonou Brasília, de mala e cuia, no dia em que Bolsonaro recebeu a faixa presidencial. Temos então o inevitável: em vez de fazer autoanálise, o Palácio do Planalto iniciou nova caça às bruxas. O presidente e seus aliados abriram guerra legal contra as plataformas que passaram a retirar de circulação as fake news produzidas pelo “gabinete do ódio” e redobrou a aposta no radicalismo. Tudo para recuperar fôlego até as eleições do próximo ano.

Bolsonaro começou a arquitetar uma forma de limitar o poder das redes sociais após Twitter, Facebook e congêneres banirem Donald Trump das redes em consequência da invasão do Capitólio, que deixou um saldo de cinco mortos e 30 feridos. Para não sofrer o mesmo constrangimento, o governo brasileiro preparou um decreto, cuja minuta foi aprovada na Casa Civil, para retirar das empresas de tecnologia o poder de expulsar participantes de suas plataformas. A intenção seria repassar à Justiça essa decisão, uma forma de, no mínimo, atrasar os processos de remoção de conteúdos considerados mentirosos ou ofensivos. No Congresso, seis projetos semelhantes foram apresentados por deputados bolsonaristas. Não é para menos. O ex-capitão teve 11 textos excluídos ou cuja distribuição nas redes acabou limitada por promover “desinformação” e “causar danos reais” aos usuários. Além disso, 35 páginas ligadas a ele e aos filhos foram retiradas do ar por disseminação em massa de fake news. Trata-se de um vício e de uma estratégia. As mentiras impulsionaram a candidatura de Bolsonaro em 2018 e alimentam a massa de seguidores, o tal “rebanho” que segue bovinamente as instruções do presidente e nega as evidências de seus crimes e incompetência.

Caso o decreto não seja barrado pelo Congresso ou pelo Supremo Tribunal Federal, Facebook, YouTube, Instagram e Twitter ficariam impedidos de excluir publicações e páginas com base em suas regras próprias e rapidamente. As empresas ou quem se sentisse ofendido seriam obrigados a recorrer à Justiça para conseguir excluir conteúdos, com exceção daqueles crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente. A fiscalização dos direitos autorais das mensagens ficaria a cargo da Secretaria de Cultura, comandada por Mário Frias, ator bissexto e bolsonarista ferrenho que leva arma para o trabalho e gosta de intimidar os servidores da pasta. Em resumo, um passe livre para a mentira, a injúria e a difamação. “Como o governo cria nova norma que trata de lei que já existe, a nº 12965, o decreto é inconstitucional. A atitude é repetitiva. Ele tem tentado legislar por meio de decretos, mas o Congresso está aí para impedir”, afirma Lídice da Mata, deputada do PSB da Bahia e relatora da CPMI das Fake News

Quem elaborou a minuta foi o advogado Felipe Carmona Cantera, secretário nacional de Direitos Autorais e Propriedade Intelectual. Disseminador de mentiras na internet, Carmona era assessor do deputado estadual de São Paulo Gil Diniz, vulgo “Carteiro Reaça”, que acabou expulso do PSL por ter virado alvo do inquérito das fake news em tramitação no STF. Nem Carmona nem a Secretaria de Cultura responderam aos pedidos de entrevista de CartaCapital. Na Câmara dos Deputados, os projetos de controle das redes são assinados pelos mais fiéis bolsonaristas: Bia Kicis, Carla Zambelli, Daniel Silveira (em prisão domiciliar por ameaçar ministros do Supremo), Luiz Phelipe de Orleans e Bragança e Filipe Barros. “Protocolamos um projeto que multa e suspende rede social que censurar usuário. Em ato conjunto com o deputado Daniel Silveira e outros, assinei PL que garante a liberdade de expressão e impede que Big Techs censurem brasileiros”, escreveu no Twitter Eduardo Bolsonaro, naquele estilo típico do clã de torturar a língua portuguesa e distorcer a realidade.

As propostas foram anexadas ao Projeto de Lei 3395, que tem o mesmo intuito. “Foi preciso uma tentativa de golpe na democracia dos EUA para que as empresas se mexessem. No fim, quem acabou golpeado foi Trump, que ‘sai de praça pública’ ao ser banido das redes”, avalia Guilherme Felitti, fundador da NoveloData, que acompanha comunidades bolsonaristas nos últimos três anos. A tentativa de Bolsonaro de judicializar a moderação das Big Techs, diz Felitti, encontra adeptos em outros países, entre eles o governador da Flórida, Ron de Santis, que sancionou lei que proíbe o Facebook e o Twitter de excluir contas de políticos. Na Índia, a sede do Twitter foi invadida por policiais depois que a rede carimbou como “manipulada” uma mensagem do governo.

Enquanto seus aliados atuam para proteger suas contas nas redes sociais, Bolsonaro divide-se entre exibir duvidosos feitos do governo, deslegitimar as instituições, minimizar a pandemia e atacar inimigos, ora o STF, ora governadores e prefeitos. Para isso, as milícias digitais, orientadas pelo gabinete do ódio, seguem de vento em popa. Por causa da pressão da CPI, Carlos Bolsonaro, vereador carioca que passa mais tempo em Brasília do que no Rio de Janeiro, retomou as rédeas da comunicação depois de um breve interregno e orientou o presidente a radicalizar nas redes. A estratégia foi selada em reunião no Palácio do Planalto em 6 de maio. Um dia antes, em evento sobre a tecnologia 5G, Bolsonaro anunciou a volta de Carluxo: “O meu marqueteiro é um simples vereador, Carlos Bolsonaro, lá do Rio de Janeiro. É o Tercio Arnaud, aqui que trabalha comigo, é o Mateus… São pessoas, são perseguidas o tempo todo, como se fosse, tivesse inventado um gabinete do ódio. Não tem do que nos acusar. É o gabinete da liberdade, da seriedade”.

A intensidade do trabalho do tal “gabinete da liberdade” é mensurável. “Os principais conteúdos falsos que realmente interessam ao bolsonarismo partem diretamente de páginas próximas ao presidente, algumas vezes dele mesmo, de seus aliados, principalmente de seus filhos Eduardo e Carlos, que ativam os robôs e a linha auxiliar que alimenta o sistema de disseminação de fake news em massa”, afirma Leandro Tessler, físico e um dos coordenadores do Grupo de Estudos da Desinformação em Redes Sociais da Universidade Estadual de Campinas. Nessa constelação de disseminadores de mentiras destacam-se os de sempre: Zambelli, Kicis e Filipe Barros, além dos blogueiros Leandro Ruschel, Allan dos Santos e Bernardo Küster. A equipe do pesquisador reuniu mais de 30 mil denúncias e 9 mil contatos de WhatsApp. O grupo monitorou, entre outras, a disseminação da fake news a respeito do “vírus chinês” e concluiu que a onda começou na página de Eduardo Bolsonaro em 18 de março. Além de milhares de compartilhamentos, a publicação acionou a rede de robôs e alimentou uma segunda mentira, ainda mais insana: aquela da existência de um microchip inserido na vacina CoronaVac para controlar mentes. O resultado veio em pesquisa Ibope em setembro: um em cada quatro brasileiros afirmou que não iria se vacinar por desconfiar do imunizante.

Outra mentira amplamente divulgada é a da eficácia do “Kit Covid”, forma de justificar a falta de investimentos na compra de vacinas e a opção por produzir cloroquina. Tudo começou em uma dobradinha de Bolsonaro e Trump, ainda em março do ano passado. O ex-presidente dos EUA, que detém ações do laboratório francês Sanofi, um dos maiores fabricantes do remédio, fez a defesa do medicamento, repercutida por Bolsonaro 48 horas depois. Em suas publicações nas redes, o ex-capitão confirmou a orientação e a distribuição da cloroquina como política de governo. Em mensagem de 29 de julho, listou 439 mil comprimidos enviados ao Pará. Em outra mensagem, de março passado, comemorou a expansão do uso do placebo: “Distribuição inicial de 3,4 mi de unidades de cloroquina e hidroxicloroquina para uso em pacientes seguindo as orientações médicas”. Das quase 500 mil menções sobre cloroquina nos últimos 30 dias, Bolsonaro lidera o ranking, segundo pesquisa feita por CartaCapital por meio da ferramenta BuzzMonitor. Um texto de 7 de maio “respondendo aos inquisidores” teve mais de meio milhão de curtidas e comentários.

Com a reeleição ameaçada, Bolsonaro voltou também a defender o voto impresso e a colocar em dúvida a lisura das urnas eletrônicas. Os dados coletados provam que partiu do próprio presidente a ordem para reavivar o assunto nas redes sociais. Em 6 de maio, o ex-capitão disparou em sua live semanal: “Sem voto impresso não vai ter eleições”. Minutos depois, Facebook, Instagram e Twitter registraram o início do que seria um pico de 54 mil menções em defesa do “voto auditável”. A transmissão foi compartilhada quase 30 mil vezes. Outra live, em que ele repete a defesa do voto impresso, em 29 de abril, registrou 450 mil interações. Além da política oficial, há um submundo de notícias falsas com produção e financiamento internacionais frequentado pelos bolsonaristas. “O que nos chama atenção é como a rede internacional tem muita presença aqui. Conseguimos chegar à fonte de uma fake news na Bósnia. E encontramos um padrão: erros de português da tradução do Google são usados como forma de driblar os filtros nas redes, assim como anagramas”, explica Leda Gitahy, da equipe de pesquisadores da Unicamp. Na era das mídias sociais, a mentira trocou as pernas curtas pela cauda longa. E é nela que Bolsonaro aposta para obter mais quatro anos de mandato. Terreno fértil existe, pois, no Brasil, em se plantando tudo dá.

O gado e o pasto

Essenciais na “guerra cultural”, os sites bolsonaristas têm experimentado um aumento de alcance nos últimos tempos. Os três maiores serviços supostamente noticiosos a serviço do clã, Jornal da Cidade on Line, Pleno News e BR7, tiveram suas publicações compartilhadas 112 milhões de vezes. Ao todo, os três “veículos” publicaram 11,6 mil textos em que defendem as teses governistas e atacam os adversários do Palácio do Planalto no período de 25 de janeiro a 25 de maio. Os termos mais usados reforçam a retórica do governo. “Ao analisarmos as palavras recorrentes nesses sites, temos Bolsonaro, STF, Lula e Doria bem acima de termos como vacina, por exemplo. Há um foco na política, provavelmente usando os sites para investir contra os adversários, sendo o principal o STF, Lula, devido à recuperação dos direitos políticos, e Doria, pela oposição na condução da pandemia”, descreve o pesquisador Pedro Barciela, responsável pela análise.

Enquanto o Jornal da Cidade on Line alcançou em um ano 198 milhões de compartilhamentos, o site Terça Livre, de Allan dos Santos, produziu 7,9 mil artigos acessados 7,2 milhões de vezes no último período, ficando em quarto lugar no ranking. No YouTube, o canal da página reúne 1,3 milhão de inscritos. Santos, criador das páginas, virou alvo de duas operações da Polícia Federal em um intervalo de 21 dias e chegou a fugir para os Estados Unidos, sob o pretexto de cobrir as eleições presidenciais. Ele tornou-se réu no inquérito das fake news em tramitação no Supremo Tribunal Federal. Na operação policial, foram encontradas mensagens que colocaram a presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, Bia Kicis, na mira da investigação e no centro da organização de atos em favor da intervenção militar. A investigação apura ainda a formação de uma rede com empresas sediadas no exterior suspeitas de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e até de prática de “rachadinhas”. Ex-missionário da Igreja Católica, Santos começou a praticar jornalismo nos Estados Unidos, quando desistiu da “missão” e retornou ao Brasil com a ideia de abrir um site “olavista”. Chegou a flertar com os tucanos e com Aécio Neves, defendeu o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, mas encontrou sua vocação na defesa apaixonada do clã Bolsonaro e do Messias.

Fonte: Carta Capital